Vida plena, bem vivida, satisfatória, significativa, quem não quer?
Circula na internet um texto, sobre o relato de uma enfermeira, que acompanhou de perto pessoas no leito de morte.
Os enfermos declararam a ela o que deveriam ter feito e não fizeram, pouco antes de chegar naquela situação, que minha avó chamava literalmente de “estar no bico do corvo” ou “dobrando o Cabo de Boa Esperança”.
Minha avó Rosa adorava essas tiradas e se existia algo nela, que me deixa profundas saudades, foram esses bons momentos, quando estava de bom humor, o que não era muito frequente, confesso. Ríamos muito juntas.
Bom, voltando ao texto, acredito que o desejo do leitor seja chegar nesse dia e, diferentemente daqueles pacientes, poder dizer:
Eu vivi plenamente a minha vida e fui feliz. Nenhum arrependimento a declarar.
E não cantar aquela música do Chico:
Vida minha vida, veja o que é que eu fiz …
Pois é. Não sei bem se é esse o seu caso. Mas se estiver na idade dos enta, tipo quarenta, cinquenta, sessenta, setenta…acho melhor começar logo a refletir, se ainda não começou, sobre como quer descrever seu passado.
Não precisa ter pressa, nem ansiedade ou afobação, mas de preferência, agora, tá?
Explico: é que existe uma trajetória a ser percorrida. E qualquer mudança de rota ou de percurso, se for preciso, exige tempo e talvez um certo esforço. Portanto é bom não bobear.
Pois é. Você deve estar pensando. Então me conta aí: onde acho essa receita de vida boa?
Também não sei. Procuro todo dia.
Mas acredito que ela não exista assim, de pronto, como fórmula mágica, para todo e qualquer ser. Fosse assim, o segredo estaria desvendado e sem mais arrependimentos ou reclamações todos morreriam felizes e em paz.
Fiz tudo que eu queria ter feito, vivi a vida que queria. Um forte abraço. Fui!
O que existe, acredito, são diferentes maneiras de se viver plenamente a vida, a minha, a sua, a do vizinho. Isso ocorre porque os critérios para uma vida boa, bem vivida, mudam de pessoa para pessoa e com o tempo. O que eu considerava prazeroso, que me trazia satisfação e felicidade há um tempo atrás, hoje em dia não quero nem de longe e nem de graça.
No entanto, para efeito de reflexão poderíamos considerar, como um bom começo, as declarações dos moribundos, aqueles da enfermeira. Os cinco conselhos mais comuns foram:
- Viva a sua a sua vida e não a dos outros;
- Não trabalhe tanto;
- Expresse mais os seus sentimentos;
- Tenha mais contato com seus amigos;
- Se permita ser feliz.
Conceda-me uma breve análise. Pessoal, claro.
Sobre viver a própria vida, isso acho top! Sensacional.
Quanto a trabalhar menos, existem controvérsias, para alguns pode ser mesmo uma antecipação da morte, os chamados workaholics não curtem, já para mim, não funciona assim, sou chegada a um ócio, criativo ou não.
Mais contato com os amigos? Amizade é bom, mas também dá trabalho. Sou adepta dos momentos juntos e dos momentos solo, para recarregar a bateria, entende?
Expressar mais o sentimento. No meu ver sentimentos podem ser expressos de maneira física, com abraços, beijos, etc, mas também por atitudes. Acho que até trocaria esse item por demonstrações de atenção, consideração e afeto. Algo amplo.
Se permitir a felicidade. Como assim? Curtir os bons momentos, creio.
Nesse assunto, eu gosto muito do poema Instantes, aquele que não é do Borges, e que pode servir como um recurso na hora das incertezas quanto ao bem viver.
Ah se eu pudesse viver novamente minha vida trataria de cometer mais erros, viajaria mais e mais leve…e por aí vai. Adepto da malaenxuta.com, com certeza.
A letra da canção Epitáfio dos Titãs também é um belo manual de sugestões para uma vida mais 100%. Aprecio muito esses trechos, que na verdade, reforçam os do poema, que não é do Borges, e os conselhos dos doentes.
“Devia ter arriscado mais e até errado mais.
Ter feito o que eu queria fazer.
Queria ter aceitado as pessoas como elas são.
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração.
Devia ter complicado menos, trabalhado menos.
Devia ter me importado menos com problemas pequenos.”
Então, para facilitar a vida e complicar menos, fiz uma compilação dessas fontes e listei, abaixo, o que potencialmente seria uma vida bem vivida.
- Cometa mais erros, seja mais tolo, leve poucas coisas a sério. Se aceite humano;
- Arrisque mais. Saia da zona de conforto;
- Aceite a vida e as pessoas como são;
- Complique menos, simplifique mais. Se importe com o que vale a pena;
- Trabalhe menos;
- Viaje mais e viaje leve;
- Contemple mais a natureza;
- Relaxe. Fique mais à vontade;
- Procure ter bons momentos;
- Seja menos perfeccionista, menos certinho e até menos higiênico (eca);
- Cuidado com os problemas imaginários, eles não existem, viu?
Não querendo desiludi-lo, caro leitor, sabemos tanto eu como você que, na prática, não é bem assim que a coisa funciona. Que essas listas milagrosas de boa vida sugerem um perfeito controle de tudo e todos, o que não existe. Surrealismo. Irreal.
Vivemos em sociedade e o que acontece com as outras pessoas, próximas ou não, nos afetam. Nesse sentido, penso também na importância de um olhar para fora do próprio umbigo, acho essencial, um movimento, por pequeno que seja, em direção àqueles que estão muito longe de uma vida boa, cuja ambição maior talvez seja apenas a procura por uma vida mais digna e mais humana.
Bom, termino essas confabulações todas com esse trecho, extraído do livro A vida que vale a pena se vivida de Clóvis de Barros Filho e Arthur Meucci.
De qualquer forma, você continuará assim. Vivendo como dá e enquanto der. Procurando esticar o encontro que alegra e abreviar o que entristece. E a vida que vale a pena? Só pode ser uma. A sua. Esta mesma que você está vivendo desde que nasceu. Mas com tudo. Seus encontros, certamente. Mas também seus sonhos, suas ilusões, seus medo e esperança e, por que não, suas filosofias também.
E a minha filosofia é a da malenxuta: SÓ CABE O ESSENCIAL.
Não se esquecendo, é claro, que é muito importante não levar a vida e nem a gente mesmo muito a sério.
Deixa sua opinião prá mim?
Obrigada 🙂
4 respostas
Certas saudades são desnecessárias, ocupam um espaço que nos condena a viver pela metade… É necessário olhar pra frente, cercar-se de presente, valorizar cada segundo com os seus e viver intensamente. bjs y
Yvone, também acho.Saudades é recordar algo que não existe mais. O que existe, de concreto, é o presente! Esse sim, deve ser mega valorizado. Obrigada pelo comentário. Seja bem vinda ao blog. bjs
Um texto que todos merecem ler. Enquanto é tempo.
Enquanto se vive sempre há tempo Daniel! abs!!!