Empatia: olhar com os olhos do outro

 

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Empatia é olhar com os olhos dos outros

Seria a empatia um antídoto para os problemas da humanidade? Eu acredito que sim.

Na época em que fazia pós-graduação em Tecnologia de Alimentos, na Unicamp, tive um professor na disciplina de Seminários, um pouco fora dos padrões.

Ele tinha ideias, digamos assim, diferentes das convencionais, como por exemplo, levar os seus alunos para assistir e debater filmes dentro da sua pirâmide. Como bom egípcio, gostava delas e havia construído uma, onde além de um auditório, funcionava sua padaria e restaurante.

Em uma das suas aulas fomos convidados a assistir  “Doze homens e uma sentença”.

O filme trata do julgamento de um porto-riquenho que teria matado o próprio pai. A princípio as evidências pareciam deixar claro a todos que o rapaz deveria ser condenado, no entanto, um dos jurados dizia não estar totalmente convencido disso. No final do filme, a situação se inverte.

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Cena do filme “Doze homens e uma sentença”

O drama suscitou uma calorosa discussão entre os alunos que me lembro até hoje. Começou com a pergunta “Você mataria alguém?”

Conforme os alunos iam respondendo com os esperados “jamais”, “de jeito nenhum” comecei a me lembrar de uma cena que presenciei durante minha marcante viagem para Bolívia.

Dois mendigos rolavam no chão, disputando um pedaço de pão velho que um deles havia encontrado no lixo. A briga era por isso mesmo, um pedaço de pão velho que estava no lixo!

Nesse momento, minha mente retornou  à nossa aula,  interrompi a discussão, levantei a mão e perguntei aos colegas: “Algum de vocês já se colocou no lugar de outra pessoa vivendo uma situação extrema, de fome, de desespero?”.

Não sou enjoada com comida, mas o fato de ter presenciado aquela cena me deixou com uma grande certeza: quando não houver jantar em casa, um pedaço de pão fresco e uma saladinha de tomate, bem temperada,  podem ser considerados um verdadeiro banquete.

O que é empatia? Você sabe?

A arte de se colocar no lugar do outro por meio da imaginação, compreendendo seus sentimentos e perspectivas e usando essa compreensão para guiar as próprias ações se chama empatia, segundo o filósofo australiano Roman Krznaric.

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Se colocar no lugar do outro, olhar com os seus olhos, sentir o que ele sente=empatia

Fervoroso defensor da empatia como um agente capaz de criar uma grande mudança social, cita vários exemplos de personagens, que mudaram o rumo da história ao se colocarem no lugar de outras pessoas, como Gandhi, Mandela e Martin Luther King.

Todo mundo sabe, vivendo nesse nosso país, que não é preciso ir à Bolívia para presenciar cenas de fome e pobreza, basta apenas abrir o vidro do carro no semáforo e olhar para o lado, para aquele ser humano pedindo moedas. Um ser que tem as mesmas necessidades que as nossas, os mesmos sentimentos, sofrimentos, dores e desejos. Alguém que tem uma história de vida, como todos nós.

Se você for como eu, dá alguma moedinha, ou não. Fecha a janela e vai embora, tentando esquecer essa visão e se achando incapaz de mudar essa situação. Será?

Sim, essa é a pergunta que me faço depois de ler o livro de Roman Krznaric.

Os noticiários dos refugiados sírios me tocam de uma maneira muito mais profunda após ter visto essa realidade, a vivo e em cores, durante uma viagem que realizei a Sérvia, em outubro de 2015, onde  os via diariamente ao passar por um acampamento montado em Belgrado.

As artes como forma de nos educar para empatia

Você assistiu o filme “A linguagem do coração”? Uma freira se coloca no lugar de uma menina surda e cega, colocando tampões no ouvido e  nos olhos, e após passar por essa experiência, decide fazer de tudo para ajudar a menina a aprender a se comunicar e viver melhor. Essa ação foi movida pela empatia.

A propósito, o cinema, a literatura e outras formas de arte de um modo geral, além das redes sociais na internet, pode nos transportar para mentes de outras pessoas e nos ajudar na nossa educação empática.

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Literatura, cinema, fotografias e outras formas de arte para ajudar a educar para empatia

Krznaric, dentre outros exemplos, cita as inesquecíveis imagens de Sebastião Salgado dos garimpeiros de Serra Pelada,  para quem quer compreender as consequências humanitárias da desigualdade de renda e a escravidão por dívida  no Brasil. Olhei as fotos e entendi  perfeitamente a colocação do filósofo australiano.

Foto de Sebastião Salgado-Garimpeiros em Serra Pelada
Foto de Sebastião Salgado-Garimpeiros em Serra Pelada

Também acredito que a empatia possa ser  uma solução para a grande maioria dos problemas da humanidade, mas caso não seja,  no mínimo nos será de inestimável ajuda nos nossos  critérios de escolha para um consumo mais consciente. Depois de acionar o seu eu empático você ainda compraria produtos provenientes de trabalho escravo? Exploração infantil? E não são poucos, viu? Olha aqui.

Citando ainda  Krznaric “ não há nada como olhar com os olhos do outro para nos ajudar a  questionar  nossas  suposições e preconceitos e incitar novas maneiras de pensar sobre nossas prioridades na vida”.

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Olhar através de outros olhos=empatia (Foto de Júlia Moretzsohn)

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bjs 🙂

 

 

 

 

 

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9 respostas

  1. Sartre dizia termos tendência a acreditar que “o inferno são os outros”. Constantemente imaginamos como deveria ser a sociedade, a partir das nossas ações. Mas, a relação humana não pode ser vista por um único viés. Também por isso se colocar no lugar do outro é uma arte.

    1. Uma arte que se faz necessária para que tenhamos…
      “Dias melhores
      Dias de paz, dias a mais
      Dias que não deixaremos para trás” (Jota Quest)

      1. Nessas alturas da vida venho pensando muito sobre isso, sobre o amor, a compreensão, a paciência e a excelência da empatia e venho lutando comigo mesmo por isso, pois observo sempre que mesmo o pior comportamento, a pior reação, os baixos sentimentos, todos a sua maneira, em seu tempo e seu entendimento e em sua história de vida e em seu meio estão tentando acertar e fazer o que acredita ser o melhor, venho pensando que “somos todos inocentes”, todo ser humano procura o “que acha ser o melhor” ……..me programando para aceitar e fazer o meu melhor em tudo que a vida me apresentar, antes eu saia de casa para o trabalho e minha oração era: “livra-me do mal” hoje: Que eu seja luz mesmo nas trevas!!!!!! Creio que venho iniciando um caminho melhor!!!

        1. Maria Cunha a empatia anda de mão dada com o julgamento e como você mesma disse, temos que ter cautela e pensar positivamente, pois o outro pode realmente estar tentando fazer o seu melhor segundo a história que viveu. Eu tenho feito um esforço estupendo para não julgar ninguém e treinar a empatia no dia-a -dia. Acho que nos ajuda, sim! Muito obrigada pelo seu comentário!!bjão

    1. Obrigada Débora por comentar aqui. Lí o livro “O poder da empatia”, do filósofo australiano Roman Krznaric, e realmente achei bem interessante a visão dele. A empatia se encaixa muito bem dentro do minimalismo. É um raciocínio que pode ser utilizado como incentivo ao desapego, tipo: “por que ter tantos pares de sapato quando há pessoas que não tem nenhum?”. Estamos nos colocando no lugar dos descalços ao pensar assim, certo? bjs 🙂

  2. A empatia pode começar olhando dentro dos olhos do outro, onde espia a sua alma, né, amada? É porque quando as almas se cruzam, neste reconhecimento da nossa igualdade, é a oportunidade de deixar de abandonar as armas do julgamento, e abraçar a compreensão, e se permitir sentir, de dentro para fora, e do outro para si. Gratidão Ferndanda.

    1. Lális, ía justamente pedir para vc colocar o comentário aqui (rs). Incrível (ou nem tanto) a gente primeiro olha e comenta no Face. Mas como disse lá, linda sua colocação! bjs

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