A Chapada Diamantina
Não me lembro mais onde li essa frase: “Se a Chapada Diamantina for seu número, pode ter certeza que voltará muitas vezes”. Voltei com essa certeza.
A Chapada Diamantina se situa no centro do estado da Bahia. Com uma área equivalente ao território da Holanda pode ser explorada a partir de diferentes bases. Lençóis é considerada a mais bem estruturada.
“A natureza é bela. Mas uma beleza agressiva mitigada pelo perfume das flores. Nas densas matas afloram orquídeas de exóticas formas e matizadas cores. Por entre as rochas nuas, a vegetação aflora em tufos como um milagre divino. É um mundo estranho e misterioso a esconder riquesas incalculáveis: os diamantes”-Rennée Lefévre
Dessa primeira vez optamos por explorar bem a parte norte da Chapada, por isso nos hospedamos em Lençóis. Os locais que visitamos estão circundados no mapa abaixo.
Lençóis
Nossa escolha de hospedagem foi a Pousada Pouso da Trilha. Um charme. Excelente localização, atendimento e instalações. A proprietária Luan é uma simpatia e adepta de escaladas. Depois que vi os músculos da moça, voltei de lá convencida a experimentar essa modalidade física (rs). No café da manhã todo dia tem novidade. Matei a saudades do mingau de tapioca e provei o bolinho de estudante. Se quiser as receitas é só pedir.
Ainda existe aquele costume interiorano da entrega de leite de fazenda nas casas. Quantos litros você quer?
Existem duas versões para a origem do nome dessa pequena localidade. A primeira é a de que quando os garimpeiros chegaram levantaram muitas tendas que de longe pareciam lençóis. A segunda é que o nome da cidade proviria da aparência das águas espumantes sobre o lajedo do rio que se assemelhavam a lençóis estendidos na serra.
A cor da água e a espuma do Rio Lençóis (e dos outros cursos de água na área) impressionam imediatamente os turistas. Essa coloração é devida ao material solúvel extraído das plantas em decomposição. A espuma também é uma manifestação natural dos mesmos compostos orgânicos que colorem a água.
Mas vamos ao que interessa. O que fazer e ver na cidade?
Flanar pelas ruas de Lençóis já é um programa e tanto. À noite lampiões e velas iluminam as ruelas estreitas. Sobre os lajedos irregulares das calçadas e das ruas, as mesinhas dos restaurantes titubeiam, sem contudo incomodar os clientes, que já estão embriagados pela energia e atmosfera da Chapada. As crianças nas calçadas, as moças com seus cabelos afro assumidos, os cachorros e os gatos nas janelas, tudo isso encanta.
Lençois, Chapada Diamantina
A Casa de Cultura Afrânio Peixoto, Rancho do Garimpeiro, Praça do Coreto, Prédio do Ipham, Museu do Garimpo (não fomos, mas foi indicado), Igreja de Nossa Senhora do Rosário e do Senhor dos Passos, são alguns dos passeios na cidade. Vimos as duas igrejinhas somente pelo lado de fora, pois nunca as encontramos abertas.
Mulheres, crianças e adolescentes lavavam roupas na beira do Rio Lençóis no domingo pela manhã. Trata-se de um costume local ensinar esse oficio às crianças.
A rodoviária em uma ponta de esquina, o prédio onde nos tempos áureos dos diamantes, um dia se instalou o vice-consulado da França, a Ponte dos Arcos e o Mercado Municipal ao fundo.
Para mim a essência de um lugar está nos pequenos detalhes, na contemplação do dia-a dia das pessoas e na feição dos seus rostos.
A ONG Grãos de Luz e Griô tem projetos de educação para crianças e adolescentes. Além de várias oficinas de artes, inserção de midias e discussões críticas são ministradas aulas de preparação para o ENEM no local “como não existem universidades próxima sem esse estímulo os adolescentes acabam por desistir do ensino superior”.
Os atrativos naturais
Existem várias agências de turismo em Lençóis que fazem os passeios na Chapada. Como mencionei anteriormente nosso foco foi o de fazer aqueles que são próximos da cidade. A Cachoeira do Mosquito, Rio Mucugezinho e Morro do Pai Inácio, fizemos em um único dia com a Venturas. Nosso guia foi o Itamar, super gente fina. Contratamos o passeio no dia que chegamos. Nada programado com antecedência.
A trilha para chegar na cachoeira, que fica dentro de uma propriedade particular, é leve. Fica a uns 40 km de Lençóis, sendo metade do caminho estrada de terra e a outra metade asfalto.
O Morro do Pai Inácio é o ícone da Chapada Diamantina, ou pelo menos, dessa parte dela. A trilha para chegar no topo apesar de curta é um pouco íngreme em alguns trechos, exigindo um certo esforço, mas nada que alguém com um mínimo de preparo físico não consiga fazer.
“Ali mesmo o Morro do Pai Inácio é um mistério. Eternamente envolto em brumas, parece um castelo de granito talhado quase a prumo onde o vento das noites roça-lhe as bordas, gemendo e roncando, fantasmagórico e lúgubre” Rennée Lefevre.
Nosso segundo dia em Lençóis foi dedicado aos passeios que não necessitam de carro. De manhã saímos com o Rai, guia da Agência Venturas, para a Cachoeira Ribeirão do Meio, regressamos para um almoço no restaurante “O Bode”, onde experimentei pela primeira vez o fatiado de palmas, que é um cactos, de origem mexicana, largamente difundido no nordeste brasileiro. Vimos uma plantação desse cactos no dia que fomos às grutas Azul e da Pratinha.
À tarde passeamos pelo Serrano, Cachoeirinha e Salão das Areias Coloridas.
O Serrano é um pequeno trecho do Rio Lençóis, cerca de 15 min da cidade, onde a cabeceira do rio é uma superfície rochosa lisa com várias piscinas naturais.
Contratamos o serviço da agência Volta ao Parque para conhecer a Serra das Paridas, um dos maiores sítios arqueológicos da Bahia. Esse passeio pode ser feito tranquilamente em meio dia e é uma boa opção para intercalar entre as trilhas ou passeios mais puxados.
Para visitar a Caverna da Torrinha, Grutas Azul e Pratinha é necessário um dia todo. Fomos com um guia contratado, tipo free-lance. Tem muitos em Lençóis.
Você é claustrofóbico(a)? Eu sou um pouco. Não sabia se iria suportar ficar 3 horas dentro dessa caverna. Sim. Esse é o tempo para conhecê-la. Existem trechos que você literalmente tem que engatinhar, devido à altura do teto. No fim deu tudo certo.
A “flor de aragonita” na foto abaixo é a única no mundo. Existem várias formações interessantes e salões enormes que se revezam com os ambientes mais apertadinhos.
As Grutas Azul e da Pratinha ficam praticamente lado a lado, dentro de uma propriedade particular. Na Gruta Azul não é permitido entrar e existe um horário especifico para ver o feixe de luz que ilumina as águas conferindo a coloração azulada maravilhosa, geralmente entre as 14 e 15horas. Difícil mesmo foi conseguir tirar um foto razoável dessa belezura toda.
Na Gruta da Pratinha só é permitida a flutuação. Preferi a contemplação.
A Comunidade de Quilombolas do Remanso fica a uns 18km de Lençois, sendo que boa parte do trajeto é feito em estrada de terra. É de lá que sai o de canoa no Marimbus ou mini-pantanal. O ponto final é a Cachoeira do Roncador. Fechamos esse passeio com a Associação dos Guias de Lençóis.
Marimbus ou mini-pantanal é o nome local para um enorme brejo de água doce formado pela confluência de dois rios, o Santo Antonio e o Utinga. Ocupa uma área de cerca de 30 km de extensão com a largura variando de poucos metros a vários quilômetros. É quase totalmente coberto por plantas semi-aquática.
Os quilombolas são os descendentes dos habitantes dos quilombos, locais de refúgios dos escravos africanos e afro-descendentes. No Brasil abrigavam também minorias indígenas e brancas (Fonte: Wikipédia).
O Samuel da Zen tour foi o nosso guia na trilha para Cachoeira do Sossego. Cara dez! Não é indicado fazer esse passeio com chuva. Na beira do rio tem muitas pedras escorregadias e o nível d´água pode subir de uma hora para outra. Contam que certa vez um pessoal ficou em cima de uma rocha até 10 horas da noite esperando a água baixar. Por esse motivo, quando faltavam uns 20 minutos para chegar na cachoeira, tivemos que retornar, pois caiu um agueiro. Mesmo assim valeu muito o passeio.Voltei com uma certeza: para um segundo “ataque” à Chapada preciso reforçar o treino na academia e fortalecer mais os joelhos.
Comilanças
Além do Restaurante O Bode, indico o Quilombolas, O Lampião e o Becos Bar onde você encontra a melhor comidinha caseira de Lençóis, a da Dona Ivanira. Não perca o crepe de chocolate do Café do Mato. Para os amantes de pizza indico a Pizza da Gente, simples, boa e barata. O Sabor da Serra tem pratos excelentes. Se você aprecia cervejas artesanais e cachaça, não deixe de conhecer o Empório Lençóis da simpática Audrey. Para o viciados em café, como eu, achei um lugar onde fazem café com coador de pano, o Garimpo Café.
Dicas importantes:
- A única agência bancária que existe na cidade é a do Banco do Brasil.
- A única rede de canal de televisão não paga é a Globo.
- Não faça passeios/trilhas sem guias. Não queira economizar com segurança. É preciso conhecer o lugar, saber onde se pode entrar, nadar, etc.
- Leve botas para trilhas. Fui com tênis com solado liso, aqueles de corrida, não é o mais apropriado, ou melhor, nada adequado.
- Se o seu hotel ou pousada não oferecer transfer do aeroporto para Lençóis, tenha certeza que encontrará outros passageiros do voo na mesma situação, daí é só rachar uma condução (em média sai R$25,00/pessoa).
Fonte:
Funch, Roy. A Visitor´s Guide to the Chapada Diamantina Mountains.
Espero que tenha ajudado de alguma forma. Ficaria muito feliz se pudesse deixar um comentário prá mim!
6 respostas
Belas imagens e ótimas dicas, Fernanda! O bom da mala “recordação” é que quanto mais cheia, mais leve fica.
Isso mesmo, Marta! E recordações, ninguém te rouba, ninguém te tira. Gratíssima pelo comentário. Um ótimo fim de semana prá vc. bjs 🙂
as fotos estão lindas!!! um dia quero conhecer 😀 não consegui ver a foto da Gruta da Pratinha… Ah, adorei o novo design do blog.
Ah Tinoca, o link estava quebrado, já consertei (acho). Quem sabe voltamos juntas? Mas é preciso reforçar muito o joelho. As trilhas são puxadas, mas maravilhosas.
Muito bom! Preciso conhecer. Boas dicas Fernanda.
Obrigada Marcos. Estamos aqui para aquilo que precisar. abs!