De Chefchaouen fomos para Fez (em português) ou فـاس (em árabe) ou Fès (em francês). Nosso destino #3 em Marrocos.
Nas paisagens do percurso, as montanhas do Rife e do Médio Atlas. Fez se situa em uma planície entre as duas formações.
De repente, avistamos o primeiro ninho de cegonha no telhado de uma casa no campo. O burrico pasta no oliveiral. O trailer abaixo é de uma família de noruegueses que resolveu cair no mundão.
Na entrada da cidade paramos em um restaurante que ficava em um complexo, algo mais ocidentalizado.
Nosso esplêndido Dar Melody
Fez é a segunda maior cidade do país, depois de Casablanca. Foi fundada em 789 d.C. por Mulai Idrís, tendo sido a capital de Marrocos em várias ocasiões. Historicamente está entre as mais importantes capitais da civilização islâmica.
Nosso motorista precisou da ajuda do Mohamed, um garotinho/guia local que, como muitos, auxilia os “forasteiros perdidos” a encontrarem seu Riad nas ruelas labirínticas da Almedina. Logicamente, por uns trocadinhos.
Os proprietários do Dar Melody, nossa hospedagem em Fez, eram franceses. Trocaram a França por Marrocos. “Aqui, é bem mais tranquilo”, nos disseram.
A Lawrence, proprietária do Dar Melody, chamou o Sr. Nagib, um guia autorizado para fazer um day-tour com a gente no dia seguinte.
O custo do day-tour é padronizado (40 euros) com guias oficiais, a policia fica de olho nos moleques e jovens que se oferecem para fazê-lo sem autorização. Fique esperto!
Vou seguir aqui na mesma sequencia que o Sr. Nagib fez conosco. Bora?
Borj Nord, tumbas e vista panorâmica
Pegamos um taxi (valor incluído no day-tour) com o Sr.Nagib para o Borj Nord que fica do lado de fora da medina. Lá ficam as Tumbas Merenides. Cabritinhos simpáticos pastam bucolicamente ao redor.
As Tumbas Merenides estão em estado acelerado de deterioração.
Merenides? Quem foram eles?
Dinastia árabe, de origem berbere (1244-1465), que governou o Marrocos, conseguindo depor os poderosos almóadas após vitórias em Fez, Meknes e Marraqueche (esta em 1269). Suas tentativas de impor-se no sul da Espanha não foram bem sucedidas e, a partir de meados do século 16, entrou em declínio.
O Palácio Real
Fez, na verdade não é uma, mas três cidades separadas:
- La Ville Nouvelle: Construída no período do protetorado francês de 1912-1956.
- Fes el Bali, também chamada de Almedina ou Medina de Fes, data do século IX.
- Fes el Djedid é a mais” nova”, foi construída pelos Merenides no século 13, sendo que sua maior parte é ocupada pelo Palácio Real.
O acesso à área interna do Palácio Real é restrita aos convidados especiais. Infelizmente, não era o nosso caso (rs).
Mellah, o bairro judeu
Nas proximidades do Palácio Real, fica o Mellah, bairro judeu, onde visitamos a Sinagoga Aben Danan, com direito à vista do cemitério judaico.
A entrada é paga, mas como as demais atrações do Marrocos, o valor é quase simbólico.
A cerâmica de Fez
O Sr. Nagib nos levou para conhecer uma fábrica de cerâmica, a Art de Poterie.
O interessante do local, além da visita técnica e das cerâmicas, é que fica situada em um local alto, de cujos fundos tem-se uma excelente vista da medina.
Como pode se observar pelas fotos, o processo é todo manual. Parte da secagem é feita ao sol e parte em forno.
A Almedina de Fez
Fez el Bali, também chamada de Almedina ou Medina de Fes é Patrimônio Mundial da UNESCO. Sua fundação data do século IX.
Além de ser considerada a mais bem preservada do mundo árabe, possui a maior zona urbana onde se proíbe a circulação de carros. Isso significa que se for “atropelado”, o que é bem provável dentro daquele crazy labirinto, será por mulas, jumentos e carriolas conduzidas por pessoas. Menos mal.
Ao caminhar pelas ruelas da medina, de vez em quando, olhe para cima. Você poderá ter uma bela surpresa.
Nagib nos leva para almoçar em um restaurante popular da medina
– Onde vocês querem almoçar? Quanto vocês querem gastar?
Nos perguntou Nagib, nosso guia.
– Gostaríamos de conhecer um restaurante típico, popular.
– Vou levá-los para um que sai 50 dh/cabeça e vocês podem degustar vários tipos de tagine na cozinha, antes de fazer o pedido.
Como adoro tudo que foge do trivial, fiquei empolgada.
Na cozinha, a pia parecia uma “sopa” de pratos com restos de alimento. Eu, que estava morrendo de fome, perdi completamente o apetite.
-Qual tagine deseja provar?
Me pergunta a cozinheira.
-Sou vegetariana (tentando escapar, só não sei para onde).
Achei que estaria salva mas …
-Temos tagine vegetariano!!!
“Putz, me ferrei”, pensei.
– Ok, pode ser.
Respondi, sem saída.
Não fotografei a pia, pois iria dar muito na cara.
Curtumes de Fez
Depois do famigerado almoço, que até que desceu bem, fomos conhecer um dos curtumes.
A cidade tem três. O mais antigo é o de Chopuara. Tem quase 1000 anos!
Na entrada, você recebe uns raminhos de hortelã fresca. É para ajudá-lo a superar o odor desagradável. Sinceramente? Não senti nenhum cheiro nesse curtume.
O procedimento é o seguinte:
- O couro (de vacas, dromedários, ovelhas, cabras) é primeiro embebido em uma mistura de cal, urina de vaca, água e sal por 3 dias
- Depois são colocadas em tanques com água e fezes de pombos (contem amônia o que torna o couro maleável e mais fácil de absorver a tinta).
- As peles são amassadas com os pés até atingir a suavidade necessária.
- São colocadas em poços com corantes vegetais naturais: flor de papoula (vermelho), índigo (azul), henna (laranja), madeira de cedro (marrom), hortelã (verde) e açafrão (amarelo). O pó de romã é utilizado para dar brilho.
Museu Neijarine de Arte e Artesanato em Madeira
O museu fica em um Funduq* maravilhosamente restaurado. Os quartos são utilizados para a exposição das peças (ferramentas tradicionais, baús, instrumentos berberes, etc).
* Hospedaria para comerciantes que armazenavam e vendiam seus produtos no térreo e se hospedavam nos andares superiores.
Mesquita e Universidade de Al Quaraouyine-coração espiritual de Fez e do Marrocos
A Universidade de Al Quaraouyine é considerada a mais antiga do mundo.
Foi fundada em 859 por uma refugiada tunisiana, Fatima el-Fihra, e expandida pelos almorávidas (dinastia que governou o Marrocos nos séculos Xi e XII) no século XII, tem capacidade para 20 mil fieis.
É proibida a entrada de não-muçulmanos. Só dá para observar o pátio, pelo portão no Derb Boutouil.
O nome Al Quaraouyine se refere à cidade tunisiana de Qayrawan, de onde emigrou a família de Fátima.
A Mesquita Al Quaraouyine é uma das maiores da África e também, não permite a entrada de não-muçulmanos. Do lado de fora, usei da potencia máxima do zoom para conseguir esses detalhes, da foto abaixo.
Um segundo dia muito proveitoso
No nosso segundo dia em Fes, dispensamos guia e resolvemos nos aventurar pelos labirintos medievais por conta própria. Foi quando descobrimos alguns lugares fantásticos que o Sr. Nagib não havia nos apresentado.
Deixamos o Dar Melody e com fé e coragem e seguimos o roteiro sugerido pela bíblia dos viajantes, o Lonely Planet, começando pelo ponto zero (rs) sugerido pela Lawrence, o Jardin Jnan Sbile que ficava do lado de fora da medina.
Plaza as-Seffarine
No caminho encontramos uma multidão de turistas em uma praça que, mais tarde, descobrimos ser a Plaza as-Seffarine, a Praça dos latoeiros.
E essas cabeças? Alguém me explica se é de vaca mesmo? Ou dromedário?
Finalmente chegamos no Bab Bou Jeloud
Bab Bou Jeloud
O portão Bab Bou Jeloud é a principal entrada para Fes el Bali. É cerca de 1000 anos mais novo que o resto da medina. Foi construido em 1913 pelo General Hubert Lyautey, comandante marroquina sob o protetorado francês.
Jardin Jnan Sbil
Do lado de fora da Almedina, próxima ao portão Bab Bou Jeloud, está a entrada do Jardin Jnan Sbil. Lugar ideal para uma pausa do agito do interior da medina.
Madersa Bou Inania
Voltando para dentro da medina, no percurso para a Madersa Bou Inania, encontramos esses pobres franguinhos no “corredor da morte”. O cliente escolhe a vitima que na hora é degolada. Carne bem fresquinha, hein?
A Madersa ou Madrassa Bou Inania é o mais refinado dos centros teológicos de Fez.
De arquitetura merínida, foi construída entre 1351 e 1357. O nome deve-se ao seu fundador, o sultão merínida Abu Inan Faris, que finalizou a madrassa entre 1351 e 1358.
Um enorme pátio, cercado por salões, com um oratório.
Repare nos minuciosos detalhes esculpidos nas paredes e forros!
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É a única madraça de Fez que tem um minarete, pois lá também funcionava uma mesquita.
Na frente da entrada da Madrassa Bou Inania, olhe para o lado esquerdo e para cima e verá a clepsidra. Não parece, mas é um dispositivo para medir o tempo, ou seja, um tipo de relógio. Detalhe: ninguém sabe como funciona, só seu criador que já não existe mais.
Bem próximo à Clepsidra procure pela entrada do Café Clock. Fica meio escondidinho. Vale a pena entrar e subir no terraço, de onde se tem um belo visual do minarete da Madraça Bou Inania.
Saindo do café seguimos para o Funduq Kaat Smen, especializado em mel e em um tipo de manteiga rançosa (aff!).
Hora de rezar, foi quando passamos pela Mesquita Chrabliyine.
Após passar pelo Souq de Hena, Place e Souq an-Nejarine chegamos à Zawiya de Moulay Idriss II.
A Zawiya é um dos lugares mais sagrados de Fes. Originalmente construída pela Dinastia Idrissi no século VI para honrar seu fundador, foi restaurada pelos governantes merenidios no século XII.
Moulay Idriss II é considerado um santo. Acredita-se que quem toca sua tumba recebe suas benções.
Não é permitida a entrada de não-muçulmanos, no entanto, olhe o que vimos ao andar do lado externo e espiando pela porta! dando
Foi no portão da Zawiya que aconteceu um fato que você precisa ficar alerta.
Um garotinho começou a puxar conversa com a gente, “Vocês são franceses? Italianos?”. Meu marido deu trela e o menino disse que iria nos mostrar um lado difícil de encontrar da Zawiya, onde seria a tumba do Moulay Idriss II.
Fomos com ele, que nos mostrou essa entrada maravilhosamente decorada da foto acima. Depois disso disse que nos levaria a outro local, as tanneries, os mesmos tanques de tingimento dos curtumes que já havíamos visto no dia anterior. Foi quando dispensamos o garoto, que logicamente, pediu alguns trocados.
Perdidos nas ruelas pedimos ajuda a um moço que passava. Não faça isso!
Ele nos levou por ruazinhas desertas e com obras. A impressão foi que estávamos muito próximos da Universidade Al Quaraouiyine, de onde conseguiríamos chegar ao nosso Dar Melody, mas que ele andou em círculos simulando um trajeto maior.
Quando nos deixou pediu dinheiro, meu marido deu alguma coisa, não satisfeito pediu mais.
Dica: Sempre peça informações aos comerciantes e nunca para pessoas caminhando nas ruas.
Retornando para nossa hospedagem, ainda flaguei esse porco-espinho, cuja carne, segundo dizem por lá, deixa os homens mais machos.
E assim terminou nossa estadia em Fez.
No dia seguinte, com nosso querido guia/motorista Omar, partimos para nosso destino #4, a cidade romana de Volubilis.
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Veja tudo o que foi publicado sobre Marrocos, clicando aqui!
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fez
Essential Travel Guide to Morocco: A Magical Exotic Paradise. Emmanuel Ebah
Dicionário de Arte Internacional. Raul Mendes Silva. http://www.raulmendessilva.com.br/brasilarte/tablet/internacional/merenides.php